quinta-feira, 18 de julho de 2013

Na aridez da Capadócia

"Olhos do Egeu", típicos na Grécia e na Turquia para afastar o mau olhado. E a paisagem lunar da Capadócia ao fundo.

A Capadócia recebeu seu nome dos antigos persas: Katpatuka, ou "terra dos belos cavalos". Hoje poderia-se chamar também "a terra dos belos enrolões", mas nesse quesito não é muito diferente das outras áreas turísticas da Turquia. O diferencial da Capadócia está mesmo nas paisagens (das mais impressionantes da Turquia), nas catacumbas antiquíssimas e no famoso passeio de balão. Não é para os claustrofóbicos nem para quem tem medo de altura  e haja pernas.

Cheguei lá logo de manhãzinha, vendo o nascer do sol da janela do ônibus. Meu destino era a cidadezinha de Goreme, centro do turismo na Capadócia. A região é ampla (como a Chapada Diamantina na Bahia), e basicamente você depende de pacotes turísticos diários que te levam às formações rochosas, às catacumbas, etc. Então passei nas agências de turismo antes mesmo de seguir para o meu hotel, um lugar simples estilo pai-e-filho-tomando-conta. O pai era um estressado anti-social e o filho um sujeito taciturno de olhos vermelhos em plena manhã, quando me recebeu. Se era conjuntivite ou fumo eu não sei. Só sei que ele, é claro, tentou me vender logo os passeios -- mais caro do que eu encontrei no centro. Recusei. Disse que ia ainda conhecer a cidade primeiro.

Mas a tentação permaneceu. O dia estava bonito, e eu estava animado pra já ver o que de melhor a Capadócia teria a oferecer. Retornei na agência mais barata (já que os passeios são idênticos, independente de onde você o compre) e perguntei se ainda dava tempo. Dava sim: um saía às 8:30h, e era só tempo de tomar um café veloz e sair. Saí pelo centro à procura de algum restaurante aberto.
Amanhecer na aconchegante cidadezinha de Goreme, em meio às rochas, na Capadócia.
Olhem a generosidade do meu iogurte de cabra com mel no café da manhã em Goreme.

Quase tudo ainda estava fechado às 8h da manhã em Goreme. Consegui somente um restaurante, onde o dono estava arrumando as cadeiras mas aceito me atender e me serviu um omelete com essa beldade de iogurte aí em cima.

Pouco tempo depois chegou o nosso microônibus. O nosso guia era um sujeito tímido e simpático que se apresentou como "Éfe". Já o passeio se revelaria uma mistura de colinas e subterrâneo, com uma caminhada por um  impressionante vale verde no meio da paisagem árida, e muitas das chamadas "chaminés de fadas" nas rochas (vocês vão ver). Mas antes de eu mostrar qualquer coisa, deixem-me dizer que a Capadócia parece uma terra de ninguém, com vastas superfícies desertas e sem cara de presença humana. Você se sente em algum filme de fantasia, de lenda, e se tiver a imaginação fértil vai começar a visualizar como poderiam viver gigantes ou anões naquelas colinas, ou que a qualquer momento vai se deparar com alguma criatura sombria saindo daquelas cavernas.

Confiram abaixo as paisagens de que estou falando. A região é semi-árida e tem em média 1000m de altura, toda formada por depósitos rochosos de atividade vulcânica de milhões de anos. As rochas foram se quebrando e se erodindo com a ação da água ao longo do tempo, e as mais duras permaneceram em formatos diversos. Há uma grande quantidade de rochas relativamente macias na região, então desde a antiguidade se cavaram moradas, refúgios e túneis nas colinas e no subterrâneo.
Paisagem rochosa da Capadócia.
A imensidão quieta.
Catacumbas com até cinco níveis de profundidade. Cavadas pelos hititas, povo que habitava esta região por volta de 1300 AC. Havia sistemas de comunicação entre os vários andares, áreas de guardar alimentos, e se estima que aqui podiam se esconder durante meses se necessário.
Vários dos túneis miúdos das catacumbas. É preciso andar todo encurvado ou feito pato, com as pernas dobradas. E essa iluminação toda é só por causa do flash da câmera...
... na realidade é assim. E em algumas partes você literalmente não vê a luz no fim do túnel, e tem que caminhar só na fé de que tem saída.
O Vale de Ihlara, um incrível cânion verde em meio à aridez.

A partir dos anos 300 DC houve forte presença monástica na Capadócia, com a construção de igrejas rupestres, muitas aqui no Vale de Ihlara. Muitas dessas pinturas rupestres continuam incrivelmente bem preservadas (mas não pode tirar foto), e o vale em si é lindo. São 100m de altura e uns 14km de extensão. Descemos ele todo a pé, e caminhamos por uma meia hora até onde seria o nosso local de almoço. Há um pequeno rio percorrendo o vale, e o ar é bem mais fresco que lá em cima. Em meio à vegetação e à água você vê aves e ovelhas, e nos paredões dezenas de entradas para cavernas.
Local do almoço no Vale de Ihlara.
Mesas ao rio e patos circulando (provavelmente sem noção do risco de serem afanados pelo cozinheiro). A sensação do ambiente é como você deve imaginar: agradabilíssima.
Várias grutas e cavernas pelas laterais do vale.
E olha quem eu encontrei por lá. O Felipe Folgosi, ator, também passeando.

Após o almoço fizemos mais uma caminhada no vale para fazer a digestão, e subir de novo é que foi o martírio. (Uma senhora amazonense meio pesada que estava conosco foi que sofreu, coitada). Ainda tínhamos pela frente as cavernas que parecem um formigueiro gigante e o "Vale dos Pombos". No caminho, a amazonense e seu marido estavam me persuadindo a fazer o passeio de balão, dizendo o quanto era legal, etc e tal. Mas eu estava relutante. Não me conformava que 1 hora de passeio de balão custasse  eu aprecei  o equivalente a quase 450 reais por pessoa. Só se eu achasse alguma mina de ouro aqui nessas cavernas.

As cavernas me lembraram Os Trapalhões na Terra dos Monstros. Eles dizem que aqui foram filmadas algumas cenas de Tatooine do Guerra nas Estrelas (com o "povo da areia"), mas não é verdade, essas foram filmadas na Tunísia. Mas que lembra, lembra. Já o Vale dos Pombos rende uma caminhada, mas somente o observamos do alto, pois não havia mais tempo. Meu dia de sair andando à deriva por conta própria seria amanhã  (fazer isso tem sempre um gostinho especial de liberdade). E, quem sabe, no fim das contas eu fizesse o tal passeio de balão...
Formigueiro gigante?
Zanzando pelo interior das cavernas.
Visitantes na masmorra.
Paisagem com essas formações rochosas.
Sentado com o Vale dos Pombos ao fundo. Parece montagem mas não é.


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